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Androginia e a Transgressão da Heteronormatividade Binária

 
HETERONORMATIVIDADE BINÁRIA

Bandeira do orgulho não-binário, criada por Kye Rowan em Fevereiro de 2014.

A androginia é a fusão de características masculinas e femininas.

Nem um, nem outro, os dois em um só ser

 

     A origem do androginismo é explicada pela mitologia grega. Conta-se que seres esféricos e vigorosos tentaram subir ao Monte Olimpo, morada dos deuses gregos, em busca de poder. Suas características: possuíam os dois sexos ao mesmo tempo, quatro mãos, quatro pernas e duas faces idênticas e opostas. Diante da situação, o mais poderoso dos deuses, Zeus, decidiu cortar ao meio os andróginos (do grego “andrós”, macho, e “guynaikós”, fêmea). Ao separar homem e mulher, Zeus condenou que cada metade buscasse uma a outra, com o intuito de reunir-se e curar a natureza humana. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

      A androginia, além de ser um fenômeno cultural, é uma forma de expressão que rompe com as barreiras sociais, engessadas e configuradas nos padrões heteronormativos binários. As facetas das vanguardas culturais, com ênfase na moda e na música, são exemplos essenciais para comprovar a incidência andrógina sobre alguns aspectos socioculturais como comportamentos, hábitos, gestos, pensamentos e outros mais. Ou seja, uma pessoa não precisa querer mudar de sexo para ser andrógina, e também não precisa ser  andrógina o tempo todo – da mesma forma que uma pessoa trans pode não querer viver essa ambiguidade, assumindo então características físicas e externas apenas femininas ou masculinas.

      Entendida como uma identidade não-binária, a androginia enquadra qualidades masculinas e femininas, independentemente do sexo biológico. Já existe uma corrente de especialistas, principalmente na área da Psicologia, que consideram o caráter andrógino como uma espécie de terceiro gênero. A psicoterapeuta suíça June Singer defende claramente tal tese em sua obra “Androginia – Rumo a uma Nova Teoria da Sexualidade” (Editora Cultrix, 1990), tida como uma das principais referências sobre o assunto. Singer pontua a androginia como a chave para o futuro da sexualidade humana, pois tal fenômeno funde os lados contrários do homem e da mulher em uma única personalidade. 

Os não-binários de gêneros possuem todos os atributos que não se categorizam dentro do binário de gênero, ou seja, tudo que não é exclusivamente relacionado ao feminino e masculino. O termo não-binário foi originalmente criado com o objetivo de descrever as características individuais que não se enquadrão nos padrões de binário de gênero, ou seja, não está necessariamente relacionado com a transexualidade. Ele diz respeito à maneira que uma pessoa identifica a si própria independente do genêro biológico original do ser.

ANDROGINIA E A SOCIEDADE
Annie Hall  - Woody Allen 1977

 

       A “nova androginia” ainda é um fenômeno muito recente para a sociedade. Despertado entre os anos 70 e 80, o estilo andrógino eclodiu e se alastrou de forma polvorosa pelo mundo. Apesar das discussões em torno da identidade andrógina estarem sendo reacendidas em um mundo moderno e globalizado. Com forte identidade de imagem e demostrações expressivas a androgenia começou a aparecer até mesmo na conservadora Europa. Na Alemanha pré-nazista dos anos 20, as mulheres usavam cabelos curtos como símbolo de contestação ao ideal feminino pregado pelos nazistas, que segundo eles deveriam ser robustas valquírias (personagens da mitologia escandinava) de longos cabelos loiros, vestidas em suas roupas regionais, vivendo exclusivamente no regime dos três K´s: Kinder, Küche, Kirche (crianças, cozinha, igreja).

 

    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

         Os primeiros andróginos explícitos no Brasil surgiram na década de 70, inspirados em cantores pop americanos e, logo em seguida, nacionais. Naquela época, não era comum ver homens e mulheres anônimos trajados de forma ambígua. Hoje a androgenia é fortemente identificada no mundo das artes e expressões culturais diversas. Atualmente vivemos um momento político catastrófico e transformador, em termos de Direitos Humanos. Nunca a sexualidade e a visibilidade de identificação de gênero foi tão discutida na mídia, nas rodas de bate papo, escolas, ambiente doméstico e profissional, artes e até mesmo na tecnologia. Ainda assim, o preconceito e discriminação persegue a classe que luta por igualdade e livre direito de expressão, seja ela de qualquer tipo for em meio ao ambiente social tão padronizado e idealizado. 

Cena do filme Annie Hall - Woody Allen 1977

Propagandas políticas ilustram o ideal alemão do comportamento feminino idealizado sugundo os ideais nazistas. 

Fonte: Ascensão ao Nazismo -SlideShare/nordicsunrise.wordpress.com

 
UNIVERSO TRANSGÊNERO

Por Janaina Simão

 

 

      No momento do parto, ou até mesmo antes do nascimento da criança, o sexo biológico já é estipulado. Na maioria das vezes, os pais compram o enxoval de acordo com o resultado da ultrassonografia. Objetos e roupas azuis para os meninos, e rosa para as meninas. A criança ainda tem que ter a aparência que foi estipulada pelo seu sexo biológico, e outros padrões estabelecidos pela sociedade começam a ser apresentados e ensinados de pais para filhos.

 

       A cultura é o que define a identidade de gênero de cada pessoa podendo variar de lugar para lugar. Ser masculino no Brasil é diferente do que é ser masculino no Japão ou mesmo na Argentina. Podemos afirmar então que, sexo é biológico e gênero é social, logo o que define se a pessoa é homem ou mulher é a sua expressão de gênero perante a sociedade e não o sexo atribuído quando a crianças nasce.  Os estudantes do curso de Jornalismo módulo 3A, do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH), discutem sobre a transgressão de gênero a partir da infância, e nos convidam a entender um pouco mais sobre o comportamento dessas crianças, que muitas vezes são projetadas por seus pais antes mesmo de nascerem.

         Em meio a ampla diversidade de abordagens que podem existir no tema trabalhando no curso - “Jornalismo Trans – uma abordagem transmídia sobre a temática transgêneros”- , os futuros jornalistas escolheram exemplicar e difundir o conhecimento sobre "Crianças transgêneros e o convívio familiar". Segundo eles, O local onde as crianças transgêneros deveriam ter mais compreensão é na escola. E infelizmente é o local onde elas mais sofrem e são humilhadas por serem “diferentes”. E isso não muda quando elas crescem e vão para a universidade. Na maioria das vezes, a humilhação é a mesma, e começa pelo desrespeito com o nome social. O nome social de um transgênero não é apelido, mas sim, algo de extrema importância para pessoas trans, pois é um dos primeiros passos para a sua aceitação perante a sociedade de acordo com sua expressão de gênero.

 

        Com os avanços médicos tecnológicos é possível que as pessoas transgênero possam ter uma aparência de acordo com o gênero com o qual se identificam. Mas cirurgias ou outros procedimentos médicos não são condições para se identificar com um gênero, logo as pessoas que se consideram travestis, também podem se considerar transgênero. Fica clara a importância dos primeiros locais em que a criança tem acesso a uma pequena parcela da sociedade. 

         Os adolescentes Katie e Arin ganharam fama e reconhecimento ao contarem suas histórias nas redes sociais e na mídia. Ambos transgêneros, nascidos Luke e Emerald respectivamente, tiveram infâncias difíceis, e foram alvo de brincadeiras maldosas na escola, preconceito e conflito interno muito grande, pois não se reconheciam no espelho. Arin não entendia porque tinha que ficar na fila das meninas quando os professores iriam separá-los para alguma brincadeira.  O processo de aceitação dos pais dos adolescente começou desde a infância, e foi lento e gradual. Mesmo diante das dificuldades impostas pela sociedade e até mesmo pela falta de conhecimento da família sobre como lidar com o assunto em casa, todo o apoio da família foi crucial para ambos. Arin conseguiu fazer a cirurgia de remoção de seios e posteriormente a de mudança de sexo, e Katie ganhou a cirurgia de um doador anônimo que pagou para ela fazer o procedimento cirúrgico.

           Atualmente vivendo como um casal, eles escolheram expor a questão trans, pois sabem que muitas outras crianças e adolescentes passam pelas mesmas dúvidas, constrangimentos e falta de apoio dos pais, o que só dificulta início dos procedimentos para a adequação do sexo psicológico que possuem. 

Adolescentes transexuais de Oklahoma, nos Estados Unidos, Arin Andrews e Katie Hill viraram manchete em jornais do mundo inteiro quando começaram a namorar.

Fotos Facebook

Karie e Arin em sua festa de Formatura - 2015

Fotos Facebook

O documentário chamado “Meu Eu Secreto”, conta as histórias de crianças transgêneros. Disponível no Youtube, o documentário está dividido em 3 partes. E você pode assistir a primeira parte abaixo. 

Matrizes culturais refletem aspectos da natureza andrógina

Andróginos estão além das passarelas de moda e dos shows musicais

     

 

       Apesar de serem setores que incidem de forma intensa o estilo andrógino, a moda e a música não são os únicos. Outras vertentes culturais também usam a androginia para questionar a gênese humana. São escritores, pintores e cineastas que evidenciam em suas obras personas andróginas e exploram a ambiguidade dos gêneros.

No universo das artes, o caráter andrógino era adotado por escultores gregos desde a Grécia Antiga, que costumavam fundir aspectos masculinos e femininos em suas criações. Restauradores modernos, como o italiano Michelangelo (1475-1564), continuaram com o mesmo trabalho ao reconstruir imagens de efebos (rapazes adolescentes) como se fossem moças. Na Índia, os antigos baixo-relevos não mostravam as divindades separadas por sexo. A partir disso, interpreta-se que elas eram perfeitas justamente por serem masculinas e femininas. O pintor renascentista Leonardo Da Vinci (1452-1519), ao representar figuras masculinas, o fazia com traços femininos. Já Marc Chagall (1887-1985) pintava homens e mulheres com formas ambíguas. O ilustre americano Andy Warhol (1927-1987) fez um retrato da atriz Marilyn Monroe que é ele próprio.

   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           No cinema, quando o assunto é androginia, dois filmes merecem ser lembrados por explorarem o tema de forma correta: Morte em Veneza (1971), do italiano Luchino Visconti, inspirado numa novela do escritor alemão Thomas Mann, e Teorema (1968), do também italiano Pier Paolo Pasolini. No primeiro longa-metragem, a trama se desenvolve a partir da história de um velho compositor que se apaixona por um adolescente, personificando nele o andrógino como imagem de contemplação estética ambígua. Já a segunda obra cinematográfica mostra uma espécie de “anjo exterminador”, que seduz todos os membros de uma família burguesa conservadora.

No âmbito das letras, ou seja, na literatura, a androginia ganha vitalidade em obras clássicas como Orlando (1928), de Virginia Woolf, e Séraphîta (1835), de Honoré de Balzac. No livro da escritora inglesa, o personagem principal é representado ora como homem, ora como mulher, no decorrer de sua vida. Aliás, o romance foi adaptado para as telonas pela diretora inglesa Sally Potter. Enquanto isso, o escritor francês traz em sua obra a história do ser andrógino que provoca uma paixão dúbia em Minna, que o toma por um rapaz (Séraphîtus), e em Wilfrid, que o considera uma moça (Séraphîta). A literatura brasileira também apresentou a duplicidade da androginia em Grande Sertão Veredas (1956), de João Guimarães Rosa. A narrativa mostra o personagem Diadorim, que desperta um amor ambíguo em Riobaldo.

 

Andróginos transcendentais  

     A explicação para a origem da androginia, a propósito, está na mitologia grega. Platão reproduziu em O Banquete o relato feito pelo comediógrafo grego Aristófanes. De acordo com a narrativa, resumidamente, seres dotados de características masculinas e femininas (duas faces, quatro mãos, quatro pernas...) tentavam subir ao Monte Olimpo, morada dos deuses gregos, em busca de poder. Zeus, o chefe de todos, pressentiu o perigo e decidiu punir os andróginos (“andrós”, macho, e “guynaikós”, fêmea) cortando-os ao meio, separando assim, homem e mulher. Ou seja, a androginia já era uma preocupação entre as civilizações antigas, que tentavam explicá-la como o arquétipo que gerou os lados masculino e feminino.

      Ao longo da história da humanidade, muitas culturas reverenciavam e reverenciam a figura andrógina como entidade divina. Acredita-se, por exemplo, que Dionísio, deus grego do vinho e da sensualidade, e Hapi, deus egípcio do Nilo, eram andróginos. Em regiões da África, do Caribe e da América do Sul, os praticantes do voduísmo honram Obatalá, andrógino criador da humanidade e portador da paz. Entre a cultura viking, o semideus venerado era Breunnhilde Valkyrie, filha hermafrodita de Wotan, rei dos deuses. Divindades com qualidades andróginas também fazem parte da crença de religiões hindu, cristã e wicca.

Por Leonardo Amorim 

O Hermafrodita adormecido reúne multidões ao seu redor. A escultura mostra de forma singela a figura bissexual do filho de Hermes e Afrodite, que se uniu num abraço eterno à ninfa Salmacis resultando na figura andrógina do Hermafrodita. Quando se observa a estátua, a sinuosidade do corpo nos dá a impressão de ser uma figura feminina, mas ao darmos a volta percebemos que se trata de uma escultura masculina.

(Hermafrodita. Musée National Romain (Palazzo Massimo). Rome.)

Hermafrodita. Império romano. 27 ac-476 dc. Museu do Louvre.

Marilyn Monroe - por Andy Warhol

Baco e David - por Michelangelo (Rome)

Cenas do filme Morte em Veneza (1971)

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